15 de mai. de 2011

Futebol e preconceito

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     Na sociedade sempre existiram e sempre vão existir crenças, cores, sotaques, tipos físicos, opções sexuais e pessoas distintas. Mesmo que as diferenças sejam comuns, nem sempre são aceitas e geram diversas formas de preconceito no ambiente de trabalho, na escola, na faculdade e, claro, no esporte. No caso do futebol sempre existiu discriminação de algum tipo. A famosa expressão “pó-de-arroz”, por exemplo, vem da época em que atletas negros, proibidos de jogar na maioria dos clubes, passavam pó no rosto para tentar uma chance no elenco. Infelizmente, temos inúmeros exemplos de atos racistas nos dias atuais: em uma partida entre o Bayern Leverkussen e Real Madrid, a torcida espanhola imitava macacos todas vez que os brasileiros Juan e Roque Júnior tinham domínio da bola. Em outras ocasiões, torcedores jogaram bananas no campo em menção do xingamento racista mais popular entre os gringos: macaco. Eto’o, pelo Barcelona, foi uma dessas vítimas. O caso com o jogador Grafite em pleno Morumbi foi um dos mais falados. Em uma partida entre São Paulo e Quilmes pela Libertadores de 2005, Desábato chamou o ex-são-paulino de “macaco”. O atacante registrou queixa na delegacia, o argentino foi preso algumas horas após o término do jogo, mas foi solto mediante o pagamento de fiança. Na Libertadores desse ano foi Máxi Lopez, atacante do Grêmio, quem demonstrou racismo: chamou o volante Elicarlos de “macaco” nos gramados do Mineirão em partida contra o Cruzeiro. O caso foi para a polícia, mas no depoimento o argentino afirmou “não saber nem o que significava a palavra macaco” e ficou impune.
        Pode ser coincidência ou baixa demanda de interessados, mas existem pouquíssimos treinadores negros em atuação na primeira divisão do principal campeonato do país: o Brasileirão. Nas primeiras rodadas do segundo turno desse ano havia apenas um treinador negro dentre os 20 que comandam as equipes (Andrade, do Flamengo). Essa escassez também pode ser observada nas posições de dirigentes de futebol. Além do preconceito racial, no início do esporte no país, integrantes das classes mais baixas da sociedade também eram proibidos de jogar bola. Alguém consegue imaginar um esporte de massa sendo praticado apenas por pessoas ricas? Com certeza muitos talentos seriam desperdiçados.Apesar do preconceito ser disparado contra pessoas de diversas nacionalidades, ironicamente, o maior alvo são os jogadores nascidos no país do futebol. Roberto Carlos e outros brasileiros “exportados” para países da Europa já chegaram a ser insultados pela cor da pele e também pela origem. Desde 2006 a Federação Paulista de Futebol promove a campanha “Racismo, aqui não!”, tentando afastar esse problema social dos gramados e das arquibancadas. Diversos atletas declaram apoio à iniciativa. Vale lembrar que a atual Constituição Federal do Brasil caracteriza como crime o racismo, a discriminação e a prática de atos de preconceito racial de qualquer natureza.
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        Ultimamente, em território brasileiro, é o são-paulino Richarlyson quem tem sofrido com discriminação. Um dirigente do Palmeiras fez insinuações colocando em prova sua masculinidade e pior ainda, a própria torcida tricolor tem atitudes preconceituosas com o volante/ zagueiro. O jogador – que nunca se declarou homossexual – não tem seu nome citado na saudação inicial das partidas e já foi até xingado pela nação são-paulina. Mesmo tendo um bom desempenho em campo, parte dos torcedores (principalmente os integrantes da maior torcida organizada do time) o julga homossexual e se recusa a prestar apoio a ele como fazem com os outros do elenco. No futebol feminino, segundo pesquisa realizada pelo Instituto de Psicologia das USP, o preconceito é o maior causador de stress emocional entre as mulheres, fator totalmente prejudicial à saúde física e mental das atletas.
Mesmo com a Seleção Brasileira tendo ficado em ótima colocação nas últimas Olimpíadas (posição superior inclusive à equipe masculina do Brasil), ainda existem os defensores da idéia que “mulher não tem capacidade de jogar futebol”. Além disso, esse “pé atrás” influi até na parte financeira das equipes femininas: é um setor onde a falta de investimento, patrocínio e incentivo é explícita. Ainda envolvendo mulheres, quem não se lembra da Ana Paula de Oliveira? Se cometer erros é normal nas funções do trio de arbitragem de futebol (infelizmente), os da bandeirinha não foram aceitáveis. Por causa de alguns enganos foi afastada da função pela Confederação Brasileira de Futebol – e cá entre nós, se todos os árbitros que cometessem erros fossem afastados não teríamos mais quase ninguém pra apitar os jogos. Pra piorar a situação, logo depois do afastamento, Ana Paula posou nua e afastou ainda mais a possibilidade de bandeirar de novo.
        É difícil acabar com um problema tão grande, principalmente se ele parece ganhar mais adeptos ao longo do tempo, contrariando totalmente a lógica da evolução intelectual e cultural humana. Por mais que numa partida de futebol alguns xingamentos e ofensas sejam “normais” vindos das arquibancadas ou entre os próprios atletas, o preconceito é crime. Esses casos não podem ser encarados como coisas normais e muito menos aceitáveis em uma sociedade democrática compostas por bilhões de pessoas que são diferentes umas das outras.

                                                                           Fonte: http://www.mtdf.com.br/

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